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20 de Abril de 2024

Formando mais e formando mal

“A fragilidade da formação tem reflexo direto no crescimento de denúncias de erros médicos”

Publicado por Lilian França
há 10 anos

Por: João Ladislau

O Ministério da Educação (MEC) autorizou, no início de setembro, a abertura de mais algumas dezenas de faculdades de Medicina. Assim, desde então, 39 municípios estão liberados para criar cursos médicos; 14 deles no Estado de São Paulo. Outras sete cidades também receberam aval para ter suas próprias escolas de Medicina, desde que obedeçam a pequenas adequações solicitadas pelo MEC.

Em agosto último, o governo Dilma Rousseff havia alcançado um recorde jamais visto na história deste País. Em 44 meses de mandato, já autorizara o funcionamento de 62 novas faculdades médicas. O Brasil, do ano 2000 até agora, abriu 136 cursos de Medicina.

Para pensar: temos 242 escolas médicas. Mais da metade nasceu nos últimos 15 anos; as demais nos cinco séculos anteriores da história do Brasil.

Óbvio que isso não é nenhum indicador de avanço social. Para se ter uma ideia, a China, com 1,4 bilhão de habitantes, possui 150 faculdades de Medicina e os Estados Unidos, com cerca de 350 milhões de cidadãos, tem 141. Não é a quantidade de graduados que implica avanço dos indicadores de saúde, e sim a qualidade.

Fato é que estamos formando cada vez mais e cada vez pior. Pudera, a maior parte das novas escolas não conta com hospital para treinamento, não existem preceptores qualificados para fazer frente à demanda de novas vagas, as grades pedagógicas estão ultrapassadas e os empresários do ensino não mostram o menor compromisso com o social. Ao contrário, os olhos deles só veem cifrões.

Como as autoridades fazem vistas grossas a tais desca­labros, o nível dos novos médicos cai vertiginosamente ano a ano. Em 2013, no Exame do Cremesp, 59,2% dos recém-formados em escolas médicas de São Paulo não atingiram a nota mínima para aprovação. Ou seja, não conseguiram responder corretamente a 60% dos testes propostos.

A fragilidade da formação tem reflexo direto no crescimento de denúncias de erros médicos. Também é eminente aumento de risco à saúde e à vida dos pacientes. Bom lembrar aqui que todos somos pacientes.

Registro que, em breve, teremos mais uma prova inequívoca do desserviço que a falta de uma política responsável para a educação de Medicina presta ao Brasil. Em 19 de outubro, realizaremos a edição 2014 do Exame do Cremesp para avaliar o grau de conhecimento de nossos jovens doutores.

As perspectivas são péssimas. Pelo andar da carruagem, em poucos anos, entrar em um consultório médico pode se transformar em novo fator de risco à saúde.

O diagnóstico está dado. Resta agir rapidamente para evitar mal maior.


João Ladislau Rosa é presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.


Fonte: http://www.cremesp.org.br/

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